RIO - O secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, está reunido, nesta quinta-feira, com subsecretários e assessores diretos para definir o sucessor no comando da Polícia Militar. O nome do novo comandante deverá ser divulgado nas próximas horas. Entre os oficiais que estariam na disputa, dois são ex-comandantes do Batalhão de Operações Especiais (Bope) assim como o antecessor, Mário Sérgio Duarte, que deixou o posto na quarta-feira : os coronéis Paulo Pinheiro e Pinheiro Neto. O mais cotado, segundo fontes do governo, é o coronel Pinheiro Neto, que foi o 13º comandante da tropa de elite da PM e participa da reunião. Já o comandante-geral interino da corporação, coronel Álvaro Garcia, não está presente.
O governador Sérgio Cabral evitou falar sobre a crise na Polícia Militar nesta quinta-feira, durante o lançamento do Programa Renda Melhor Jovem. Cabral chegou ao Teatro Carlos Gomes, no Centro, por volta de 10h30m, e entrou no prédio pela porta lateral, evitando encontrar os jornalistas que o aguardavam na porta principal. Na saída, por volta de meio-dia, o governador deixou novamente o teatro pela porta lateral e não atendeu aos pedidos dos jornalistas para conceder uma entrevista.
Comandantes de batalhões ouvidos pelo GLOBO dizem que o novo comandante da PM terá que atender a três características: lisura, firmeza e unir a tropa, que passa por momentos difíceis por causa do envolvimento do comando e de policiais do 7º BPM (São Gonçalo) com a morte da juíza Patrícia Acioli, em agosto.
Pinheiro Neto, de 47 anos, comandou o Batalhão de Operações Especias (Bope) em 2007, quando a polícia invadiu o Complexo da Alemão e 19 pessoas morreram. Ele foi aspirante da PM em 1987 e promovido a coronel em 2009. Foi a primeira promoção do comando de Mário Sérgio Duarte. Ele é amigo pessoal do comandante exonerado e do subsecretário Operacional da Secretaria de Segurança, delegado Roberto Sá. A amizade entre os três firmou-se durante o Curso de Operações Especiais do Bope, onde foram companheiros de turma.
Entre outros nomes que estariam sendo analisados pelo secretário, um dos possíveis sucessores é velho conhecido dos policiais do batalhão de São Gonçalo: considerado linha dura, o coronel Ricardo Quemento Lobasso comandou o 7º BPM (São Gonçalo) entre 2007 e 2009, época em que a juíza Patrícia Acioli, assassinada em agosto, já estava na 4ª Vara Criminal de São Gonçalo. Antes, porém, o militar já havia comandado o Batalhão Ferroviário e o 2º BPM (Botafogo), entre 2005 e 2007. Em 2009, foi transferido do batalhão de São Gonçalo para o 31º BPM (Barra da Tijuca).
O terceiro nome da lista seria o do coronel Aristeu Leonardo Tavarez, relações públicas da PM durante o governo Rosinha. Ele também comandou o 2º CPA (Comando de Patrulhamento de Área) e o Batalhão de Polícia Rodoviária. Em 2006, foi promovido a coronel em meio a denúncias de que a governadora Rosinha teria publicado uma lista de oito oficiais promovidos a coronel incluindo quatro tenentes-coronéis, entre eles Aristeu Leonardo, que estavam fora das oito primeiras colocações de uma relação elaborada pela Comissão de Promoção de Oficiais.
Aristeu Leonardo integrou o trio de arbitragem brasileiro que foi à Copa do Mundo em 2006. Nascido na Lapa e criado na Zona Norte do Rio, Aristeu tinha duas paixões quando menino: futebol e filmes de guerra. O desempenho fraco como zagueiro nas peladas com os amigos o fez pender para o lado militar e escolher ser PM porque nas Forças Armadas teria de deixar a cidade do Rio.
O ex-comandante-geral da PM, coronel Mario Sergio Duarte, afirmou, na manhã desta quinta-feira, em entrevista à Bandnews FM, que seu pedido de exoneração, feito ontem à Secretaria de Segurança, nada mais foi do que o cumprimento de seu dever moral.
- Não há nenhuma outra alternativa do que assumir a minha responsabilidade pela escolha do comandante. Esse é um ato moral que me cabe, o papel do funcionário público. Essa é minha forma de dizer que minha proposta de ter uma PM com respeito ao cidadão deve envolver todos os escalões: o soldado que está na ponta e também os altos escalões, como a minha pessoa. Por isso, solicitei minha exoneração. Não gostaria de fazer isso, neste momento em que estou acamado e não posso vir a público, mas é meu dever moral - afirmou o coronel.
Mario Sergio Duarte, que se recupera de uma cirugia na próstata, entregou seu pedido de exoneração ontem, dois dias depois da prisão do tenente-coronel Claudio Luis Oliveira, ex-comandante do 7º BPM (São Gonçalo), suspeito de ser o mandante do assassinato da juíza Patrícia Acioli. Sobre a escolha de nomear o tenente-coronel Cláudio - que responde a 12 processos administrativos - para o comando do 22º BPM (Maré), Mario Sergio Duarte disse que sempre há risco de erros neste tipo de escolha:
- Por mais que tenhamos precaução na hora da escolha, nós pesamos todas as informações. Mas sempre vai haver uma possibilidade de erro na nossa escolha mesmo de policiais com a ficha completamente limpa. O coronel Claudio foi o terceiro comandante do Batalhão de São Gonçalo na minha gestão, e ele vinha obtendo redução dos índices de criminalidade. Mas o processo de escolha de comandantes é extremamente penoso. O que não pode depois é dizer: "eu não sei, eu não vi, eu fui traído". A responsabilidade é minha.
Sobre seu substituto, Mario Sergio não deu detalhes, mas desejou sorte:
- Não sei quem será o novo comandante, mas desejo o melhor.
Em nota, a Secretaria de Segurança informou que Mário Sérgio enviou uma carta ao secretário José Mariano Beltrame reconhecendo "o equívoco" de ter nomeado o tenente-coronel Cláudio para o 7º BPM (São Gonçalo), o primeiro cargo de comando dado ao oficial, que está preso desde quarta-feira em Bangu 1 com outros sete PMs. Na carta com o pedido de exoneração, enviada a Beltrame pelo BlackBerry do hospital onde está internado, se recuperando de uma cirurgia na próstata, ele disse estar "ciente do desgaste institucional decorrente de sua escolha".
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"Sobre o caso particular que me impõe esta decisão, o indiciamento do tenente-coronel Cláudio Luiz Silva de Oliveira no homicídio da juíza Patrícia Acioli, e sua consequente prisão temporária, devo esclarecer à população do Estado do Rio de Janeiro que a escolha do seu nome, como o de cada um que comanda unidades da PM, não pode ser atribuída a nenhuma pessoa a não ser a mim", escreveu Mário Sérgio.
A exoneração, pedida, segundo a nota da secretaria, "em caráter irrevogável", aconteceu um dia depois de Beltrame ter afirmado, em entrevista coletiva, que Mário Sérgio gozava de sua "plena confiança". Ainda segundo o texto, o secretário lamentou a saída do oficial.
Fonte:http://oglobo.globo.com
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