Desde 2007, um número ainda incerto, mas significativo de paraenses, deixou o país pelas três principais rotas do tráfico de pessoas no Estado. Saindo dos municípios de Breves e Portel, o crime é realizado por aliciadores que iludem, em geral, garotas jovens, com a promessa de trabalho e fama. As vítimas passam então por situações de escravidão e exploração, que começam desde o início da
viagem e continuam nos destinos finais, sobretudo a Espanha e a Guiana Francesa.
Quem explicou o funcionamento do processo foi alguém que há anos combate o tráfico de pessoas no Pará. Dom José Azcona, bispo da prelazia do Marajó, garante que as autoridades têm conhecimento dos casos, mas ainda não se empenharam para combatê-los. “Considero uma omissão porque repassamos o que acontece nesses municípios mais pobres, mas ainda esperamos por intervenções mais efetivas”, critica. Segundo ele, a falta de clareza nos processos judiciais também prejudica a luta contra o problema. “Envolvidos em crimes foram soltos, outros sequer julgados. O encontro de hoje (ontem) é a oportunidade de denunciar a nossa covardia, a falência da família e da sociedade, e cobrar providências de nossos representantes”, afirmou.
Esse foi o objetivo das pessoas que compareceram à abertura do Seminário Tráfico de Pessoas - A vida é muito preciosa para ser violada, que abriu ontem no Hangar Centro de Convenções e reuniu autoridades políticas, entidades religiosas, líderes comunitários e até celebridades nacionais, como a atriz Dira Paes, natural de Abaetetuba, nordeste do Estado.
Segundo estatísticas da Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 700 mil pessoas são traficadas por ano. Pessoas são o terceiro foco mais lucrativo do tráfico, perdendo apenas para armas e entorpecentes.
SILÊNCIO
Respondendo às criticas da comunidade católica, o delegado geral da Polícia Civil no Pará, Nilton Barreto, afirmou que a principal dificuldade encontrada pelas secretarias é o descaso da sociedade. “O silêncio das pessoas é o que mais atrapalha”, garante. Por isso, ele reforça os canais de comunicação com as delegacias. “Qualquer suspeita deve ser comunicada imediatamente à polícia. Não há necessidade de esperar 24 horas”, afirma. O disque-denúncia (181) funciona 24 horas e preserva a identidade do autor.
Segundo ele, a atual gestão tem combatido fortemente o problema, por meio de duas delegacias especializadas para pessoas desaparecidas, uma delas só para crianças e jovens. “Existe uma política estadual específica para o assunto e o trabalho de investigação tem ocorrido intensamente”, afirma.
CPI
São muitas as formas de iludir e explorar jovens paraenses em todo o Brasil, afirmou o deputado esta-
dual João Salame, presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Legislativa do Pará, durante o seminário. “A sociedade não acredita, mas existem aliciamentos de todos os tipos, desde o sexual até o esportivo, que leva garotos jovens com a promessa de serem jogadores de futebol e depois os exploram”, afirma.
O parlamentar denuncia uma nova prática que ainda está em investigação, mas já conta com supostos casos. “Estrangeiros engravidam garotas de programa, registram o filho ainda no Brasil e viajam para a Europa. Após algumas semanas a brasileira volta e o paradeiro da criança se torna incerto”, diz. A CPI está em fase de finalização dos depoimentos, já tendo ouvido mais de 20 pessoas. A expectativa é de que os estudos sejam concluídos em até 60 dias.
Fonte: (Diário do Pará)
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