Deputado petista disse que não há blindagem do governador na CPI do Cachoeira
RIO, BRASÍLIA e SÃO PAULO - As declarações do deputado federal Cândido Vaccarezza (PT-SP), ex-líder do governo na Câmara, não estão agradando aos parlamentares do PT. O líder do partido no Senado, Walter Pinheiro (BA), já afirmou que o deputado é um membro da CPI do Cachoeira, mas não responde por todo o partido ou pela comissão. O deputado foi pego na quinta-feira mandando uma mensagem de texto ao governador do Rio durante reunião da CPI, para dizer que iria defendê-lo perante a comissão. “A relação com o PMDB vai azedar na CPI, mas não se preocupe, você é nosso e nós somos teu (sic)", disse Vaccarezza no texto, segundo flagrou o “Jornal do SBT”.
Na segunda-feira, dia 21, a situação de Vaccarezza após esse episódio pode ser discutida na reunião dos representantes do PT na CPI, que acontece semanalmente. Porém, a assessoria de Pinheiro nega que a reunião tenha sido convocada para debater a permanência do deputado na comissão.
A troca de mensagens com Sérgio Cabral, na qual promete blindar o peemedebista na CPI do Cachoeira, aconteceu durante reunião da comissão na qual foram votados mais de 70 requerimentos de convocação de depoimentos, nenhum pela convocação de governadores, incluindo Cabral, ou pela convocação do ex-presidente da Delta Fernando Cavendish. Diante da repercussão do caso, a oposição já considera certa a convocação do governador do Rio na comissão.
O senador Alvaro Dias (PSDB-PR) afirmou que é “inevitável” que Cabral seja convocado após o episódio de ontem. Para o senador tucano, a amizade entre Cabral e o ex-administrador da construtora Delta Fernando Cavendish já é nacionalmente conhecida, e que se os governadores Marconi Perillo (PSDB, de Goiás) e Agnelo Queiroz (PT, do Distrito Federal) devem ser convocados, Cabral está “no mesmo patamar”.
- Acho que essa espécie de relação de amor através de torpedo joga mais luzes sobre o governador e amplia as suspeitas sobre ele. Esse cuidado todo, de blindar, pressupõe existência de fatos que precisam ser esclarecidos - afirmou Dias.
Dias destacou que Perillo já se ofereceu a prestar esclarecimentos perante a CPI sobre os fatos revelados pela Polícia Federal, de suas relações com o contraventor Carlinhos Cachoeira, e que os outros governadores devem também comparecer.
- No caso do Rio, foi onde a empresa Delta mais cresceu, com contratos com o governo do Rio. Há uma relação inegável do Cachoeira com a Delta, é possível que ele seja um sócio oculto. As coisas vão evoluir de tal maneira que será inevitável a convocação do Cabral - disse Dias.
O senador Roberto Requião (PMDB-PR) disse hoje não acreditar na CPI, por haver envolvimento profundo de todos os partidos no esquema de corrupção.
- Ela dificilmente irá a algum lugar que não seja a desmoralização do Congresso Nacional – disse.
Vaccarezza: mensagem foi enviada a Cabral em ‘momento de irritação’
Com a divulgação do vídeo em que Vaccarezza manda mensagem a Cabral, o deputado postou uma série de mensagens no Twitter nas quais afirma que não há blindagem para que Cabral não seja convocado na CPI mista.
“Sou amigo do PMDB nossas relações nunca serão azedadas. O SBT filmou mensagens entre eu e Cabral num momento de irritação”, afirmou.
“Não tem blindagem do Cabral. Não existe nenhuma citação telefônica, nem envolvimento do Cabral com o Cachoeira. Afirmo que a CPMI vai investigar a organização criminosa do Carlos Cachoeira doa em quem doer”, completou em outras duas mensagens.
Em outro post no microblog, Vaccarezza responde ao ator José de Abreu, que publicou em seu perfil um comentário em que diz “Não tenho nenhum medo de dizer a verdade: Cabral nao foi citado! Não tem pq ser convocado. O caso das fotos é pra outra CPI”. Vaccarezza, então, responde:
“@Jose_de_Abreu obrigado pela solidariedade. Tenha a certeza que a CPI não vai blindar ninguém e também não será um tribunal de Inquisição”.
Em nota enviada à imprensa nesta tarde, Cândido Vaccarezza disse que o texto da mensagem de texto para o governador Sérgio Cabral (PMDB) captado na quinta-feira pela TV refletiu sua “preocupação pessoal com tensionamentos pontuais entre o PT e o PMDB”.
- Meu objetivo era deixar claro ao governador Sérgio Cabral que, apesar das discordâncias pontuais, a boa relação entre nossos partidos deve ser mantida – afirmou Vaccarezza, em nota.
O deputado afirmou que não pode haver um “esvaziamento” das investigações da CPMI.
- Qualquer um que tiver relação com a organização criminosa de Carlos Cachoeira será investigado. Por outro lado, não vamos compactuar com a espetacularização ou com o esvaziamento da investigação - disse.
Para Vaccarezza, o caso de Cabral é distinto da situação do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB).
- A situação é diferente no caso do governador Marconi Perillo (PSDB), contra quem pesam suspeitas fortes de que havia uma cota de funcionários do seu governo indicados pela organização criminosa, principalmente na Polícia Civil e no Detran-GO – completou.
Vaccarezza vai parar nos assuntos mais comentados do Twitter
Diante da divulgação da troca de mensagem com Cabral, o nome do deputado petista ficou em primeiro lugar pela manhãj nos assuntos mais comentados no Twitter. O microblog também foi usado pela oposição para criticar Vaccarezza. O deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ) comenta: "Amizade singular, blindagem co$tumeira".
Pré-candidato à Prefeituta do Rio, o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ) ironiza: "CPI blinda governadores e dono da Delta. Vaccarezza é do Cabral e Cabral é do Vaccarezza! A aliança PT-PMDB vai longe", escreveu no Twitter. Freixo é o candidato da oposição e disputará a prefeitura com o líder nas pesquisas e atual prefeito do Rio, Eduardo Paes, do PMDB, que se coligou com o PT.