Principal suspeito de ter participado da chacina que vitimou seis adolescentes em Icoaraci no último sábado, o ex-policial militar Rosevan Moraes Almeida deu uma nova versão ao depoimento inicial prestado na Divisão de Homicídios, onde o caso está sendo investigado. Rosevan, a princípio, apenas se limitava a declarar sua inocência no crime.
Pela manhã, no trajeto entre a Divisão de Homicídios e o prédio do Centro de Perícias Científicas Renato Chaves, onde iria realizar os exames de corpo de delito, o acusado comunicou aos policiais que o condu-
ziam de que gostaria de mudar seu depoimento. Até então, havia a expectativa de que o suspeito “abriria de vez o bico” e admitisse sua participação na matança.
Porém, ele continuou negando. A novidade no novo relato à autoridade policial ficou por conta das indicações, feitas por ele, de outros pistoleiros que estariam integrando grupos de extermínio que agiam nos bairros do Guamá e Terra Firme, praticando o mesmo tipo de assassinatos como os do último sábado em Icoaraci. Os novos nomes serão investigados pela polícia. O suspeito seria conduzido ainda durante à tarde para o presídio Anastácio das Neves, onde ficará recolhido.
NEGATIVADe acordo com informações do delegado Lenoir Cunha, da Divisão de Homicídios, o suspeito não convenceu sobre sua inocência nos assassinatos. Para o delegado, todas as evidências apontam para a acusação de Rosevan Almeida. “Mesmo ele negando todas as acusações, declarando o álibi de que estava lanchando na avenida Augusto Montenegro, mais de 90% das testemunhas que prestaram depoimento à polícia sobre o caso afirmaram que o ex–PM Rosevan Almeida estava no momento do crime e teria sido ele o autor dos disparos em todas as vítimas”, disse. Havia a informação que, de 20 testemunhas, 18 apontavam o ex-PM como principal culpado da chacina.
A Polícia Civil informou que as investigações sobre o caso a partir de agora serão direcionadas a descobrir quem era o homem que estava com ele no momento da execução, dirigindo a motocicleta usada para condução e fuga do local do crime.
Suspeito voltou ao local do crimeNa última quarta-feira, 23, Rosevan Moraes esteve no local do crime sob a justificativa de que estaria ali apenas para se defender das até então supostas acusações de que ele estaria envolvido no massacre dos adolescentes de Icoaraci. Naquele momento, circulava a informação de que uma organização paralela à segurança pública estaria atuando no distrito de Icoaraci, de acordo com populares que não se identificaram por medo de represália.
Afirmavam que agentes da lei, responsáveis e pagos para trabalhar pela segurança do cidadão, estariam reforçando o tal grupo. Além de Icoaraci há suposições de um outro grupo desse no bairro do Guamá - rezava a lenda nem tão inverídica assim de que um homem chega ao local do crime em um veículo preto e faz os disparos contra as vítimas, mais de oito pessoas foram vítimas de homicídio durante os últimos dois meses.
Citado nos bastidores como um dos possíveis exterminadores, eis que surge o ex-soldado da PM, Rosevan Moraes Almeida, que aproveitou a presença da imprensa na área para tentar esclarecer algumas acusações.
“As pessoas estão espalhando por aí que eu teria matado esses rapazes. Por isso, vim até aqui para negar qualquer tipo de envolvimento nisso. Jamais faria isso próximo da minha casa, onde moro há 40 anos”, afirmou na ocasião, ao acrescentar: “Realmente, passei por aqui uns 30 minutos antes de o crime acontecer, mas na hora que os adolescentes foram mortos eu estava lanchando, longe daqui, na avenida Augusto Montenegro”.
Rosevan disse à reportagem do DIÁRIO que está afastado da corporação e aguarda um procedimento na Justiça para retomar os serviços militares. Em 2008, ele foi preso durante a operação batizada como “Navalha na Carne”, sob suspeita de integrar um grupo de extermínio com atuação na Região Metropolitana de Belém. “Fique três anos preso e fui solto porque ninguém conseguiu provar nada contra mim. Agora, o Estado deve pela injustiça que cometeu”, reforçou o ex-soldado.
Polícia cortou na própria carneOs policiais e civis presos na operação Navalha na Carne responderam na época por crimes de cárcere privado, tráfico de drogas, extorsão praticada por servidor público no exercício de sua função (concussão), assassinatos, tráfico de armas, formação de bando ou quadrilha e roubos.
A prisão dos acusados, que envolve policiais militares e cidadãos civis, ocorreu a partir do dia 28 de fevereiro de 2008, dando cumprimento aos trinta e dois mandados de prisão decretados pela Justiça, após quase um ano de investigações realizadas pela Polícia Civil, através do Grupo de Pronto-Emprego (GPE), e o Grupo Especial de Prevenção e Repressão às Organizações Criminosas (Geproc), além do Ministério Público Estadual. Dos vinte e oito presos iniciais, na ocasião que a Operação Navalha na Carne foi deflagrada, apenas vinte e um foram efetivamente denunciados ao Ministério Público do Estado, entre eles doze policiais da Polícia Militar e nove civis. Os policiais militares acusados são: José Djalma Ferreira Lima Júnior, major da PM; Edinaldo da Silva Pinheiro, conhecido pelo apelido de “Mongol” (PM); Emanoel Silva de Castro (PM); Rui Dias Pereira (PM); Jamilson Gama dos Santos, apelidado de “Baby” (PM); Jorge Alex Medeiros Alves (PM); Romero Guedes Lima, conhecido por Cabo Lima ou “Montanha” (PM); José Percival da Conceição Moraes (PM); Mauro Augusto Nascimento (PM); Paulo César Alves Pereira, identificado como César ou “Dedão” (PM); Rosevan Moraes Almeida (PM) e Max André da Conceição Bentes (PM).
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