A perícia da Política Técnico-Científica de São Paulo concluiu na madrugada desta terça-feira (31) o laudo sobre como a advogada Mércia Nakashima foi assassinada. O documento de cerca de 200 páginas, sendo 20 com a dinâmica da cena do crime e o restante com o resultado de relatórios de mais 13 exames e análises, será entregue até esta tarde no Ministério Público e, posteriormente, no Fórum de Guarulhos, na Grande São Paulo.
O laudo aponta o advogado e policial militar reformado Mizael Bispo de Souza como assassino da ex-namorada Mércia. O motivo teria sido ciúmes. Na conclusão do perito Renato Pattoli, que fez o relatório, o vigia Evandro Bezerra Silva auxiliou o advogado na fuga. Eles negam o crime.
Além disso, uma prova técnica coloca Mizael na represa de Nazaré Paulista, no interior do Estado, onde Mércia morreu afogada. Seu corpo foi localizado em 11 de junho deste ano. Um dia antes, seu veículo havia sido encontrado no mesmo local. A mulher tinha desaparecido de Guarulhos em 23 de maio.
O documento foi entregue na manhã desta terça ao delegado Antônio de Olim, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que presidiu a investigação. Ele, o perito e o promotor Rodrigo Merli Antuntes vão se encontrar nesta terça na sede do MP em Guarulhos. A prova que coloca Mizael na cena do crime será divulgada após a reunião.
Depois, o laudo segue para o juiz Leandro Bittencourt Cano para ser anexado ao processo.
“O que posso dizer é que são conclusões que colocarão Mizael na represa, mas não sei ainda o que é. Posso garantir, no entanto, que é uma prova técnica contundente”, disse o promotor, por telefone.
Procurado, Pattoli não quis comentar o assunto. A reportagem não conseguiu localizar Olim e os advogados do réu, Samir Haddad Júnior e Ivon Ribeiro, para falarem a respeito.
Investigação
Além de Mizael, o vigia Evandro Bezerra Silva é acusado de participar da morte de Mércia. De acordo com a investigação policial, o vigilante deu carona para o ex fugir da represa em Nazaré Paulista. Ambos negam o crime e estão em liberdade.
Mércia desapareceu e foi morta em 23 de maio, depois de sair da casa de seus avós, em Guarulhos. O corpo dela, no entanto, foi encontrado em 11 de junho em uma represa, em Nazaré Paulista (SP). O veículo onde ela estava havia sido localizado submerso um dia antes. Segundo a perícia, a advogada foi agredida, baleada, desmaiou e morreu afogada dentro do próprio carro. Ela não sabia nadar.
Um pescador disse à polícia ter visto o automóvel dela afundar e um homem não identificado sair do veículo. Além disso, afirmou ter escutado gritos de mulher.
Para a polícia, Mizael matou a ex por ciúmes e o vigilante o ajudou na fuga. Mizael alega inocência. Evandro, que chegou a acusar o patrão e dizer que o ajudou a fugir, voltou atrás e falou que mentiu e confessou um crime do qual não participou porque foi torturado.
Ainda segundo o relatório do delegado Olim, do DHPP, Mizael e Evandro trocaram diversos telefonemas combinando o crime. A polícia chegou a essa informação a partir da quebra dos sigilos telefônicos dos dois. O rastreador do carro do ex também mostrou que ele esteve próximo ao local onde Mércia foi achada.
Liberdade provisória
Mizael e Evandro estão em liberdade provisória por conta da decisão da desembargadora Angélica de Almeida, do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP). Ela decidiu, em caráter liminar, pela revogação dos decretos de prisão preventiva contra os réus. O mérito da liminar ainda será apreciado pela relatora e outros desembargadores. Além da relatora, mais dois desembargadores votarão se Mizael e Evandro continuarão soltos ou serão presos.
Mizael, apontado como o mentor e executor do crime, é acusado por homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, meio cruel e dificultar a defesa da vítima). Evandro também foi acusado pelo assassinato, mas com duas qualificadoras (meio cruel e dificultar a defesa da vítima), sendo citado pelo promotor como "partícipe".
Audiência
No dia 18 de outubro ocorrerá a primeira audiência do caso Mércia no Fórum de Guarulhos. Serão ouvidas as testemunhas da acusação e da defesa, bem como os réus. Essa etapa é chamada de fase de instrução e antecede a de um eventual julgamento. O juiz dirá se vai pronunciar os réus, ou seja, levá-los a júri popular e marcar a data do julgamento, ou se irá optar pela impronúncia, desclassificação da ação ou absolvição sumária dos acusados.
O G1 tentou encontrar o advogado de Evandro, José Carlos da Silva, para comentar o caso, mas não o localizou. (G1)