A máquina de fraudes, corrupção e tráfico de influência política, montada dentro da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema) nos últimos anos, deixou marcas profundas no órgão.
Em dezembro passado, a prisão de vários servidores, pela Polícia Federal (PF), foi o resultado de um trabalho de investigação que ainda não acabou. As quatro mil páginas produzidas incluem laudos forjados, vistorias fajutas em planos de manejo realizadas sem que técnicos saíssem de seus gabinetes em Belém, centenas de conversas telefônicas interceptadas com ordem judicial, dezenas de cópias de cheques de propina e depoimentos dos envolvidos.
As prisões aconteceram para impedir a destruição de provas que poderiam prejudicar as investigações. O DIÁRIO teve acesso a todos os documentos e diálogos gravados. A ação para destruir provas foi identificada dias antes das eleições de outubro. O ritmo era frenético pelos corredores da Sema. O entra-e-sai de prepostos de madeireiros, candidatos a cargos eletivos e despachantes davam uma cara esquisita ao órgão ambiental, transformado em verdadeiro balcão de negociatas.
Um diálogo captado pela PF resume de forma patética a situação. O servidor, desconfiado de que poderia estar sob os holofotes da investigação, trava a seguinte conversa com um colega: “sabe aqueles papéis, lá?”. O outro responde: “que papéis?. Irritado, ele desabafa: “aqueles lá, do homem, porra, tu sabes”. E dá a orientação: “leva tudo lá pro corredor e taca fogo”.
GRAMPO
A PF sabia que precisava agir com rapidez. Além de fazer grampo de celulares e até de e-mails, preparou escuta ambiental. Ela acontece quando microfones minúsculos transmitem à distância conversas que ocorrem dentro de uma sala. A intenção era chegar ao comando do grupo criminoso. A aprovação ilegal de vistorias e de licenças para a exploração de madeira e planos de manejo eram decisões tomadas no decorrer de simples telefonemas.
Havia, porém, casos especiais. A importância de quem estava ao telefone, sobretudo política, era levada em conta. Exemplo disso é a conversa entre o então secretário adjunto da Sema, Cláudio Cunha, e o deputado estadual (reeleito) Gabriel Guerreiro. Cunha explica ao deputado sobre a melhor forma de tirar proveito eleitoral das aprovações de planos de manejo. Procurado pelo DIÁRIO, o deputado informou que só vai se pronunciar perante à Justiça.
Citado em uma das conversas grampeadas pela PF, conforme matéria publicada pelo DIÁRIO na edição do último dia 6, o deputado Cassio Andrade disse que não existe qualquer investigação realizada pela PF sobre ele. “O que tomei conhecimento foi da existência de conversas grampeadas de funcionários da Sema que mencionavam uma licença ambiental pleiteada pela empresa da qual sou um dos três sócios e não o dono”.
“Tal licença de fato foi cobrada, mas de forma legítima, tendo em vista que a empresa cumpriu todos os trâmites legais para a concessão dessa licença e o prazo para tal concessão já havia se esgotado. Essa cobrança foi realizada pelos sócios da empresa, dentro dos seus direitos de empresários, e não utilizando a figura do deputado estadual”, disse, acrescentando que “em momento algum foi feito contato com a governadora, secretário ou qualquer funcionário da Sema requerendo qualquer tipo de favorecimento”.
Em dezembro passado, a prisão de vários servidores, pela Polícia Federal (PF), foi o resultado de um trabalho de investigação que ainda não acabou. As quatro mil páginas produzidas incluem laudos forjados, vistorias fajutas em planos de manejo realizadas sem que técnicos saíssem de seus gabinetes em Belém, centenas de conversas telefônicas interceptadas com ordem judicial, dezenas de cópias de cheques de propina e depoimentos dos envolvidos.
As prisões aconteceram para impedir a destruição de provas que poderiam prejudicar as investigações. O DIÁRIO teve acesso a todos os documentos e diálogos gravados. A ação para destruir provas foi identificada dias antes das eleições de outubro. O ritmo era frenético pelos corredores da Sema. O entra-e-sai de prepostos de madeireiros, candidatos a cargos eletivos e despachantes davam uma cara esquisita ao órgão ambiental, transformado em verdadeiro balcão de negociatas.
Um diálogo captado pela PF resume de forma patética a situação. O servidor, desconfiado de que poderia estar sob os holofotes da investigação, trava a seguinte conversa com um colega: “sabe aqueles papéis, lá?”. O outro responde: “que papéis?. Irritado, ele desabafa: “aqueles lá, do homem, porra, tu sabes”. E dá a orientação: “leva tudo lá pro corredor e taca fogo”.
GRAMPO
A PF sabia que precisava agir com rapidez. Além de fazer grampo de celulares e até de e-mails, preparou escuta ambiental. Ela acontece quando microfones minúsculos transmitem à distância conversas que ocorrem dentro de uma sala. A intenção era chegar ao comando do grupo criminoso. A aprovação ilegal de vistorias e de licenças para a exploração de madeira e planos de manejo eram decisões tomadas no decorrer de simples telefonemas.
Havia, porém, casos especiais. A importância de quem estava ao telefone, sobretudo política, era levada em conta. Exemplo disso é a conversa entre o então secretário adjunto da Sema, Cláudio Cunha, e o deputado estadual (reeleito) Gabriel Guerreiro. Cunha explica ao deputado sobre a melhor forma de tirar proveito eleitoral das aprovações de planos de manejo. Procurado pelo DIÁRIO, o deputado informou que só vai se pronunciar perante à Justiça.
Citado em uma das conversas grampeadas pela PF, conforme matéria publicada pelo DIÁRIO na edição do último dia 6, o deputado Cassio Andrade disse que não existe qualquer investigação realizada pela PF sobre ele. “O que tomei conhecimento foi da existência de conversas grampeadas de funcionários da Sema que mencionavam uma licença ambiental pleiteada pela empresa da qual sou um dos três sócios e não o dono”.
“Tal licença de fato foi cobrada, mas de forma legítima, tendo em vista que a empresa cumpriu todos os trâmites legais para a concessão dessa licença e o prazo para tal concessão já havia se esgotado. Essa cobrança foi realizada pelos sócios da empresa, dentro dos seus direitos de empresários, e não utilizando a figura do deputado estadual”, disse, acrescentando que “em momento algum foi feito contato com a governadora, secretário ou qualquer funcionário da Sema requerendo qualquer tipo de favorecimento”.
INVESTIGAÇÕES
Em dezembro passado, a prisão de vários servidores, pela Polícia Federal (PF), foi o resultado de um trabalho de investigação que ainda não acabou.
Uso eleitoreiro das autorizações
O diálogo entre o então secretário adjunto da Sema Cláudio Cunha e o deputado Gabriel Guerreiro, capturado pela PF, é o seguinte:
Cunha- Deputado, aquele seu manejo deve tá saindo já, viu?
Guerreiro- Tá na sua mão. Solte isso pra mim, hoje.
Cunha- Não, vou soltar agora. (E fala com alguém na sala, informando o número do plano de manejo de interesse do deputado. Dizendo “se tiver aí traz pra mim assinar agora)”.
Guerreiro- Tá só faltando a sua assinatura.
Cunha- Então, deputado, eu vou lhe ligar daqui a 30 segundos. (falando com alguém na sala: “vê logo isso que eu tô com o deputado na linha”). Deputado, ela já tá verificando aqui, se tiver eu vou gastar a tinta dessa caneta com o maior prazer, deputado. Deixa eu lhe falar uma coisa: posso lhe dar o filão?
Guerreiro- Sim.
Cunha- Eu estou emitindo entre dois mil e cinco mil autorizações para manejo de açaizais no Marajó. Se o senhor quiser ter uma reunião aqui com a gente, eu lhe passo a lista pro senhor se antecipar lá com as comunidades. Tipo assim, uma semana, dez dias de antecedência, para levar como uma conquista. Aí, na outra semana, a gente tá distribuindo.
Uso eleitoreiro das autorizações
O diálogo entre o então secretário adjunto da Sema Cláudio Cunha e o deputado Gabriel Guerreiro, capturado pela PF, é o seguinte:
Cunha- Deputado, aquele seu manejo deve tá saindo já, viu?
Guerreiro- Tá na sua mão. Solte isso pra mim, hoje.
Cunha- Não, vou soltar agora. (E fala com alguém na sala, informando o número do plano de manejo de interesse do deputado. Dizendo “se tiver aí traz pra mim assinar agora)”.
Guerreiro- Tá só faltando a sua assinatura.
Cunha- Então, deputado, eu vou lhe ligar daqui a 30 segundos. (falando com alguém na sala: “vê logo isso que eu tô com o deputado na linha”). Deputado, ela já tá verificando aqui, se tiver eu vou gastar a tinta dessa caneta com o maior prazer, deputado. Deixa eu lhe falar uma coisa: posso lhe dar o filão?
Guerreiro- Sim.
Cunha- Eu estou emitindo entre dois mil e cinco mil autorizações para manejo de açaizais no Marajó. Se o senhor quiser ter uma reunião aqui com a gente, eu lhe passo a lista pro senhor se antecipar lá com as comunidades. Tipo assim, uma semana, dez dias de antecedência, para levar como uma conquista. Aí, na outra semana, a gente tá distribuindo.
Guerreiro- Tá, eu vou te ligar na outra semana, eu vou fazer uma viagem agora, quando eu chegar eu vou te ligar.
Cunha- São cinco mil famílias.
Guerreiro- Maravilha.
Cunha- Aí dá uma ajuda, não dá?
Guerreiro- Com certeza absoluta, Deus o livre.
Cunha- Isso é em “off”.
“Eu não quero 200, quero 500”
- Silvia, servidora terceirizada da Sema, atuaria como verdadeira despachante dentro do órgão ambiental, recebendo vantagens financeiras pela agilização de processos. Ela e a servidora Natália conversam sobre a liberação de uma licença a pedido de outro servidor, Antônio Carlos. A PF estava na escuta.
Natália- Olha aí, o Antônio Carlos quer falar contigo sobre um documento que é pra você liberar uma licença pra ele, ele tá agoniado.
Silvia- Eu choro!
Natália- Hein?
Silvia- Só amanhã, quando eu tiver aí.
Natália- Ai eu falei pra ele, “pelo amor de Deus, fala pra Silvia, não sei o quê”.
Silvia- Sabe por que ele tá desesperado? Porque, com certeza ele já pegou dinheiro do pessoal e agora ele tem que entregar a licença, mas só que ele me disse que não pegou nada, porque se pegasse ele ia me passar. Ele não me passou nada. Ele que espere até amanhã.
- Em outro diálogo entre Natália e Silvia, segundo a PF, o entendimento é de que Silvia recebe dinheiro de Walderson pela sua atuação dentro da Sema. A conversa não deixa dúvida.
Natália- Ei, olha aí.
Silvia- O que foi?
Natália- Deixa eu te falar, peraí.
Silvia- Tá.
Natália-O Délcio veio aqui e deixou 200 reais pra ti.
Silvia- Quanto ele deixou? 200?
Natália- Pra ti. É.
Silvia- 200 reais?
Natália- Não é, não?
Silvia- Volta lá e joga na cara dele, que eu não quero 200. Quero 500.
Natália - Ah, tá, tá bom, eu vou com ele agora. Então, tá. Deixa eu te falar, a licença tá ativada, só que a Bruna disse que tem que descer, porque tem que pagar o DAE. Que porra é essa?
Silvia- Ah, tá, tá. Não tem problema. Pode mandar descer. Já assinou?
Natália- Já, já assinou. Aí, ele manda descer e aí depois eu faço o quê?
Silvia- Pode. Não. Pode mandar, pode mandar pro protocolo. O seu Augusto emite o DAE.
Natália- Ah tá. Deixa eu te falar.
Silvia- E os 200 pode segurar, que a gente já fez a nossa parte.
Natália- Ah, tá. E outra coisa, deixa eu te falar uma coisa.
Silvia- E nós tamo f..... se tiver grampeado o telefone.
Fonte:http://diariodopara.diarioonline.com.br
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