Um documento interno enviado com exclusividade ao DIÁRIO oriundo do Centro de Recuperação Penitenciário do ParáCRPP-III, considerado de segurança máxima, onde estão os detentos mais perigosos do Estado, mostra que as organizações criminosas estão cada vez mais audaciosas, exigindo das autoridades além do alerta geral um maior controle da situação.
Uma guerra entre os “chefões do crime” dentro da cadeia tem originado desde o início do semestre - tão logo voltaram da Penitenciária de Catanduvas - uma série de situações que poucos mortais conseguem ter acesso, devido o caso estar sob sigilo absoluto.
Quem entrega o “movimento” dentro do Centro de Recuperação Penitenciário do Pará CRPP-III está condenado à morte. Verificando o Diário Oficial do Estado do dia 03 de novembro de 2011, encontramos a portaria 145/11-CGP/SUSIPE datada de 27 de outubro de 2011, onde o Corregedor Geral Penitenciário, delegado Robério Pinheiro, determina instauração de sindicância para apurar a morte do detento Willian Pontes Machado ocorrido em 17 de outubro passado nas dependências do CRPP-III, em Americano.
Outra portaria de número 146/11-CGP/SUSIPE, de 27 de outubro passado, também assinada pelo Corregedor Penitenciário, determina apurar responsabilidade administrativa sobre fato narrado no memorando 1746/2011-CRPPIII, de 11 de outubro, referente ao suicídio do interno Sidney Cândido Neto Borges, fato também ocorrido no Centro de Recuperação Penitenciário do Pará III, no mesmo dia. Estes dois fatos em um intervalo de uma semana não tiveram repercussão na imprensa e, segundo informações privilegiadas, teriam sido um “cartão de visita” para os novos dirigentes da Susipe, que não teriam se curvado ante as exigências das organizações criminosas.
Chama atenção do fato é que uma dessas mortes aconteceu exatamente no dia 17 de outubro de 2011, o dia em que foi designado pelo major Mauro Barbas para responder pelo expediente da direção do CRPP-III o major Janderson Paixão de Sousa, conforme publicação no Diário Oficial do dia 19 de outubro passado.
Informações privilegiadas dão conta que a organização criminosa pretendia matar o preso conhecido como “Redenção” depois que este “ganhou o movimento” no dia 11 de novembro (sexta-feira) e avisou para a direção sobre os passos da organização criminosa PCC no CRPP-III.
Uma fonte ligada ao CRPP-III diz que hoje o comando da cadeia estaria nas mãos dos detentos Taurino Lemos da Conceição e seu irmão, Talvick Lemos da Conceição, Alan Pires de Andrade (“Bob Esponja”) e Jardel Teles Nogueira, todos identificados como membros do PCC (Filial Pará).
Acredita-se que os últimos assaltos aos bancos de Curuçá, Canaã dos Carajás e o túnel encontrado em Marabá seriam frutos do braço armado do PCC no Pará na tentativa de fazer caixa para novas investidas criminosas.
Bando de Tucuruí rebatizado pelo PCC
Estes detentos que hoje tentam comandar de dentro da cadeia os destinos dos cidadãos de bem são remanescentes do Bando de Tucuruí. Portando fuzis e pistolas, assaltaram em fevereiro de 2003 o Banco do Brasil de Tucuruí, matando o cabo PM Agripino, atirando em outros três militares e usando reféns como escudos humanos durante 40 minutos.
As imagens gravadas por cinegrafistas amadores e redes de televisão mostram que a cidade de Tucuruí parou, ficando totalmente à mercê dos bandidos, que atiravam para todos os lados. Toda a ação criminosa aconteceu por volta das 10h30 em pleno movimento no centro da cidade.
Os bandidos já chegaram atirando no prédio do Banco do Brasil. Segundo a Polícia Civil, a quadrilha apresentava entre 15 a 18 homens e usavam fuzis HK 47, capazes de furar carros blindados, AR-15 e pistolas automáticas 7.62. Ousados, alguns assaltantes usaram as máscaras exibidas no filme “Pânico” e atiravam para todos os lados, para intimidar os policiais militares, que a tudo assistiam, impotentes à ação do grupo armado.
Identificado e preso, o bando foi transferido para o CRPP-III em outubro de 2003. Organizados dentro da cadeia e com fortes ramificações, foram eles que tentaram o resgate de Adriano da Silva Brandão e Antônio Dino da Silva, fato descoberto a tempo pela inteligência da Susipe.
“Eles seriam resgatados por uma quadrilha durante a troca de turno dos agentes, mas o resgate foi descoberto a tempo. Na tentativa frustrada, dois presos foram baleados nas pernas, quando escalavam o muro do presídio. O preso Antônio Dino da Silva veio a falecer”, lembra um ex-agente penitenciário que estava de serviço no dia planejado para a fuga.
Passado um tempo, outro plano de fuga foi descoberto - esse com direito a mapa e informações (veja ilustração acima). Em ação, as inteligências das polícias militar, civil e sistema penal entraram em ação e o plano acabou caindo por terra, mas a ameaça levou o Governo do Estado a transferir para Catanduvas todo o bando em 19 de agosto de 2006.
O interessante é que após o retorno da quadrilha do Sistema Penitenciário Federal, o Núcleo de Inteligência da Polícia (NIP/PA) descobriu que todos os membros da quadrilha foram batizados na facção criminosa Primeiro Comando da Capital, o PCC, tendo como data de aniversário o dia 18/11/2007. “Se eles já eram escolados, imagina com poderes maiores”, avalia um agente penitenciário ouvido pelo DIÁRIO.
Direção de presídio libera lista de regalias
No documento enviado ao DIÁRIO, o signatário se diz inconformado com a atitude tomada pelo atual diretor do CRPP-III, capitão Janderson Paixão, onde absurdamente reformulou a lista de material permitido para adentrar aos internos custodiados no CRPP-III.
Dentre o material, o denunciante afirma que foi liberado escovas de dente com cabos inteiros, o que podem se tornar um estoque, além da liberação de energia para as celas, espelhos que podem virar uma arma cortante, e fogão elétrico, que pode cortar o policarbonato que não é resistente a fogo, apenas a balas.
Segundo a denúncia, esta listagem foi solicitada pelo todo poderoso interno Taurino Lemos da Conceição, um dos líderes da facção criminosa PCC no Pará, que fez uma lista a seu bel-prazer - e da qual fazem parte queijos, temperos Sazon, açaí, frutas selecionadas, hidratante para o corpo, cremes antitransparentes, revistas Veja e fio dental, entre outros produtos.
Lembra o denunciante que o Centro de Recuperação Penitenciário do Pará CRPP-III é uma casa de segurança máxima e que desta forma ela perde sua função, onde a maioria dos internos são considerados de alta periculosidade, colocando em risco toda segurança pública do Pará - uma vez que essa unidade controla as demais em virtude da rigidez da disciplina imposta.
Denúncias são ignoradas. Agentes reagem
Fontes que pediram para não ser identificadas dizem que ainda no CRPP-III, após a entrada da nova administração da casa penal, as indisciplinas contra os funcionários passaram a fazer parte da rotina dos internos, que exigem liberação de roupas normais, tênis e lixas, entre outros objetos.
A denúncia dá conta que até um freezer, comprado pelos próprios internos do bloco ‘’A’’, fora colocado dentro da carceragem para que os mesmos possam usufruir de água gelada 24horas por dia. Isso sem falar nas várias tentativas de passagem de celulares e drogas. Só no final de semana passado, foram apreendidos pelos funcionários mais de 15 celulares. Porém, apenas uma visitante foi encaminhada à delegacia para procedimentos.
O informante afirma que o CRPP-III serve de referência em termo de disciplina para as outras casas penais do Estado por a mesma ser de “segurança máxima” - e por isso não é permitida a entrada de alguns materiais para a carceragem, principalmente roupas normais, uma vez que os detentos usam uniformes cedidos pelo Estado. Por esse motivo, os funcionários já pensaram em cruzar os braços e só adentrar à casa penal para exercer suas funções após conversar com o novo superintendente, tenente coronel André Cunha.
Os agentes que trabalham na casa não desejam que ela volte a ser como era há dois anos, onde alguns funcionários foram agredidos por presos - e quando o agente Oliveira ficou com problemas de visão após ter sido agredido por um dos internos, e outro funcionário, José Mário da Silva Viana, foi executado por ter flagrado uma quantidade de entorpecentes na praça de visita da casa penal.
Investigações sigilosas apontam como principal mandante do assassinato do agente prisional José Mário o interno Adriano Cardoso do Nascimento, conhecido como “Adriano Narigudo”, custodiado no CRA-III, bloco A.
Mas a situação não é apenas no CRPP-III. No Centro de Recuperação Penitenciário do Pará CRPP-I, em uma revista de rotina no mês de outubro, após informações passada por um interno, foi encontrada no interior do pavilhão IV uma pistola de calibre 380. Neste local ficam somente os presos que são considerados chefes do tráfico.
Lá a ‘festa’ é ainda maior, sendo permitida entrada de materiais como sanduicheiras, DVDs, som de potência bastante elevada e bebidas alcoólicas para alguns aniversariantes, devido à fragilidade da segurança.
O DIÁRIO teve conhecimento que um relatório contendo essas informações foi repassado ao diretor do Núcleo Administrativo Penitenciário (NAP). major Matos, e ao ex-superintendente, major Mauro Barbas, mas nenhuma providência teria sido tomada.
Um relatório confidencial mostrando as deficiências do CRPP-III também chegou à redação do DIÁRIO, que comprova a situação grave em que vive esta unidade prisional, que era considerada de “segurança máxima”.
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