Dados apontam que 50 mil cabeças foram levadas de 700 fazendas (Foto: JR Avelar)
O furto de gado bovino e bubalino na Ilha do Marajó não é um fenômeno recente, mas nos últimos anos vem tomando proporções gigantescas devido à ação de grupos organizados que invadem propriedades rurais, principalmente de pequenos produtores. Animais são embarcados para outros municípios gerando prejuízos e um problema à saúde de quem consome a carne.
Dados da Agência de Defesa Agropecuária do Pará, no ano de 2008, apontam que mais de 50 mil búfalos foram furtados de pelo menos 700 fazendas paraenses em todo o Estado, causando um prejuízo à estrutura econômica da região. O crime é qualificado e está no art. 155, combinado com o art. 162 do Código Penal Brasileiro.
Os produtores rurais dos municípios afetados afirmam que a impunidade é uma aliada constante para as quadrilhas. Durante as ações os criminosos entram na propriedade, levam os animais sem reação dos funcionários, que patrulham as fazendas desarmados, enquanto os ladrões se apresentam com armamento de grande poder de fogo.
“Na cidade, todos os habitantes sabem quem são os ladrões de gado, mas com medo não denunciam, o que contribui também para a impunidade”, diz um pequeno produtor rural, que temendo represálias preferiu não ser identificado. Ele conta que teve, entre os anos de 2005 e 2009, aproximadamente 200 animais furtados em mais de dez ações das quadrilhas.
ALTERAÇÕES
Pouco mais de 10% do total roubado conseguiu ser recuperado pelos donos. Alteração das marcas e sinais que identificam que o animal pertence a determinada propriedade também é constatada.
Para o superintendente regional dos Campos do Marajó, delegado Felipe Schmidt, recém nomeado, o trabalho deverá ser intensificado a partir de um diagnóstico levantado pela Polícia Civil que vai contar com apoio da Polícia Militar por meio do seu batalhão especializado para identificar e desmantelar as quadrilhas.
SEM COMBATE
As ações policiais, segundo o pequeno produtor José Osvaldo Cuimar, foram pequenas diante do furto realizado por quadrilhas na Ilha do Marajó. Em 2008, a “Operação Caiçara I”, da Polícia Civil, recuperou mais de 400 cabeças de gado de uma quadrilha que praticava assaltos em fazendas da região do Marajó.
Coordenada pelas Diretorias de Polícia Especializada e do Interior, os policiais encontraram os animais nos municípios de Cachoeira do Arari e Santa Cruz do Arari. Uma motocicleta e farto armamento que eram usados pelos criminosos também foram encontrados. Ademar Darquina Corrêa e Ana Alice Nunes foram presos.
Os animais foram encontrados em currais, e no local os policiais se surpreenderam com os instrumentos que seriam utilizados para adulterar a marcação dos animais. “Naquele ano tivemos um pouco de paz assim que o rebanho retornou”, comemorou um pequeno produtor, dono de 100 cabeças de gado bovino em Retiro Grande, distrito de Cachoeira do Arari.
Em 2009, uma operação da Polícia Civil com o Ministério Público através do Grupo Especial de Prevenção e Repressão às Organizações Criminosas desmantelou uma quadrilha liderada por Nazildo Moraes de Souza e Joelson Diogo Maciel. Eles foram flagrados na embarcação “Sombra do Mar”, fazendo o transporte irregular de 17 cabeças de gado bubalino de Cachoeira do Arari, para um matadouro clandestino em Barcarena.
Ação ousada e perigosa das quadrilhas
As quadrilhas que atuam na Ilha do Marajó pegam o animal roubado, sendo descartado de duas maneiras: uma, eles matam o animal, às vezes lá dentro das fazendas, ou então colocam num isopor de 100 litros gelo junto com a carne, botam numa embarcação e vão descarregar na Estrada Nova.
Antigamente, a matança de bois nos campos era feita artesanalmente, atordoando o animal, dando uma pancada na testa dele. Hoje, eles usam armas de grosso calibre para o abate, cujo animal é dependurado por uma perna traseira e sangram até a morte.
Os ladrões têm 30 minutos para eviscerar e, se durante estes 30 minutos não tirarem as vísceras, a carne estará infectada de bactérias e, mesmo assim, será vendida em feiras e mercados, contaminada por febre aftosa, ou brucelose, uma vez que não há fiscalização nem o documento necessário, que é o Guia de Trânsito Animal (GTA).
Outra situação mais organizada é o transporte por embarcações, utilizando os vários rios da região e até mesmo a única rodovia em condições de tráfego na Ilha do Marajó, a PA-154, que não tem barreira de fiscalização.
ALÉM DAS BARREIRAS
O que chama a atenção para as ocorrências é a quantidade cada vez maior de gado bovino e bubalino furtado que é comercializado não só no Pará, mas também em outros Estados. O que em muitos casos ocorre é que o crime não afeta apenas os cofres públicos, mas também a segurança sanitária e epidemiológica, uma vez que a carne que circula é de origem duvidosa.
De maio a setembro, época em que os furtos de gado bovino e bubalino são constantes no Marajó, os animais são abatidos sem qualquer fiscalização ou higiene, estocados em caixas de isopor e transportados para vários municípios do Pará e Amapá, atravessando algumas vezes as fronteiras do país, o que prejudica também a arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços.
COMBATE
Visando melhorar o policiamento de forma estratégica, a Secretaria de Segurança Pública do Pará tem um novo desafio reforçando a logística de conhecimentos e métodos para o melhor enfrentamento em relação às quadrilhas que atuam no eixo dos municípios de Cachoeira do Arari, Santa Cruz do Arari e Ponta de Pedras.
A ação eficaz nesses casos deve ser não apenas da repressão pelos órgãos legais do Estado, mas também a instauração de um processo investigatório por parte do Ministério Público do Pará que garanta os trâmites legais da ação penal contra os envolvidos.
Fonte:http://www.diarioonline.com.br/noticia-138284-impunidade-impusiona-o-furto-de-gado-no-marajo.html
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