A falta de leitos obriga pacientes a uma verdadeira via-crúcis para conseguir atendimento nos hospitais públicos de urgência e emergência de Belém. Já houve registros de óbitos e muitos correm risco de morte enquanto perambulam de hospital em hospital. E para completar o quadro, os postos de saúde do município, além de superlotados, atendem com precariedade a população.
Vítima desse pesadelo, a dona de casa Maria das Graças Lima Siqueira, 56 anos, moradora de Icoaraci, tentava, desde domingo, um leito para ser atendida depois que sofreu um derrame (aneurisma). Ela foi atendida primeiro no Hospital Abelardo Santos daquele distrito de Belém. De lá, foi encaminhada, já na manhã de ontem, para o Pronto-Socorro Municipal da 14 de Março porque precisava fazer uma tomografia computadorizada com urgência.
“O médico só olhou para ela, deu uma olhada rápida no prontuário e a despachou de volta, dizendo que não tinha leito”, denuncia o cunhado de dona Maria, José Ricardo Alves de Campos, 42, mecânico. Ele faz questão de dar o nome (Rogério Santiago Souza) e até o número do CRM (10074) do médico que atendeu dona Maria. E afirma que vai denunciar o médico ao Conselho Regional de Medicina “por omissão de socorro e negligência médica”. Segundo o mecânico, ele teve ainda que brigar muito e até dar gritos para conseguir que a paciente ficasse internada no Hospital Abelardo Santos, para onde foi mandada de volta, apesar do hospital não possuir o equipamento necessário para atender dona Maria que ainda aguarda pelo exame.
OUTEIRO
O drama dos que sofrem para conseguir um leito se estende aos postos de saúde do município, onde os pacientes devem ser acompanhados depois de deixar o hospital. É o caso de dona Marina Campos Pureza, uma aposentada de 67 anos que pena para conseguir atendimento para o neto, Michael Patrick Lima Pureza, 22, um cobrador de van que descobriu ser possuidor de diabetes depois que quase morreu por causa de uma inflamação nos dentes.
Depois de uma verdadeira maratona que começou pelo posto de saúde de Outeiro, passou pelo Hospital Abelardo Santos de Icoaraci e pelos Prontos- Socorros Municipais da 14 de Março e do Guamá, finalmente Michael foi operado no Hospital Barros Barreto, com encaminhamento feito já pelo Centro de Saúde do Guamá. “E só consegui o internamento dele porque apelei para o Barra Pesada”, conta dona Marina, referindo-se ao programa da TV RBA.
Agora, o problema é conseguir manter o controle da glicose e da pressão sanguínea do neto. Ela afirma que o posto de saúde do Outeiro não tem o parelho para medir a glicose e o atendimento é o pior possível, sendo que foi destratada por uma funcionária, na manhã de ontem. O neto reclama do curativo que fez no posto: “Só passaram um soro e colocaram gaze e atadura, não puseram nada de remédio”. A avó completa: “Aqui em casa eu faço melhor”. Dona Marina diz que agora o único jeito é comprar o aparelho no cartão e depois ver como pagar porque dinheiro mesmo ela não tem para cobrir uma despesa que cabe ao município.
O posto de saúde do Outeiro estava lotado na tarde de ontem com pacientes reclamando da falta de médicos e da demora no atendimento. A dona de casa Maria de Lourdes Ferreira dos Santos, 52, disse que estava aguardando atendimento desde as 4h da manhã. Quase chorando por causa de uma forte dor na coluna, ela exibia encaminhamentos, senha e exames, já quase sem validade por causa da demora para ser atendida.
Funcionários aproveitaram a ocasião para denunciar que um aparelho de Raios X está encaixotado há quase um ano no posto de saúde, onde o médico só estaria comparecendo uma vez por semana e a diretora duas vezes. Um aviso chama atenção na farmácia do posto que só funciona das 8h às 12h.
SESMA
A Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) enviou nota à redação esclarecendo que “o aparelho de Raios X da Unidade de Saúde de Outeiro ainda está em fase de instalação, pois este processo tem de ser feito por uma equipe técnica capacitada e com os cuidados necessários”.
Sobre as demais denúncias a Sesma informou que todas serão devidamente apuradas para que sejam tomadas providências.
Nenhum comentário:
Postar um comentário