Igor Mello
A deputada estadual Janira Rocha (Psol-RJ) foi parar no olho do furacão após ser flagrada por escutas dando conselhos ao cabo do Corpo de Bombeiros Benevenuto Daciolo, um dos líderes do movimento grevista dos policiais e bombeiros. Apontada como culpada por outros parlamentares e parte da população, ela corre risco até mesmo de ter seu mandato cassado.
Contudo, a parlamentar, que manteve publicamente sua posição antes mesmo de ter o nome revelado, não se arrepende da maneira como agiu. Ela afirma que faria tudo novamente, e que não vai mudar sua atuação por conta da ameaça de perder seu mandato:
"Esse processo de julgamento é, antes de mais nada, uma ação política. Se a população do Rio ficar majoritariamente a favor da causa dos policiais e bombeiros, vai ser difícil ficar contra a vontade popular e me cassar", diz Janira. "O resultado tem a ver com com a correlação de forças que for estabelecida na sociedade. Mas não vou mover minha ação política pelo medo de ser cassada. Se isso acontecer, vou ter orgulho de ser cassada por uma corja de bandidos ao defender os trabalhadores. No meu modo de ver, essa gente é guiada por interesses escusos dentro do Estado".
A parlamentar afirma, no entanto, que não estava insuflando os grevistas a cometerem qualquer ato ilícito, e critica a "edição da gravação feita pela TV Globo".
"Meu trabalho é político, discuto politicamente com o comando do movimento sobre as melhores táticas a serem adotadas. Na mesma gravação, eu deixo bem claro que considero abominável qualquer ato de vandalismo ou uso de armas, mas esse trecho foi cortado pela Globo".
Segundo Janira Rocha, que acompanhou os 11 líderes do movimento grevista presos na manhã desta sexta-feira, o governo está colocando em risco a integridade dos grevistas presos:
"Olha só o tipo de coisa que esse governador está fazendo! Ele pega policiais e os coloca no mesmo presídio em que diversos bandidos que eles prenderam durante anos cumprem pena. É uma tortura indireta. A chance de uma tragédia acontecer é imensa", alerta.
Questão deve ser levada até Brasília
Janira afirma que o próximo passo na defesa dos policiais e bombeiros vai ser buscar revogar a prisão na Justiça. No entanto, a deputada acredita que será preciso buscar os tribunais superiores em Brasília.
"Temos uma reunião com a Comissão de Direitos Humanos da Alerj, familiares dos presos e a Defensoria Pública para buscar caminhos jurídicos para este impasse. Estamos achando que, como existe um verdadeiro estado de exceção no Rio, está tudo montado para transformar a greve em um grande crime. Vamos tentar os tribunais superiores, onde temos maior chance de sucesso. E, na verdade, o que está acontecendo aqui tem que ser discutido nacionalmente".
Janira elogiou a postura do deputado Wagner Montes (PSD-RJ), que também é apresentador da TV Record. Segundo ela, Wagner conseguiu mostrar a realidade da situação:
"Gostei muito do programa do deputado do Wagner Montes de hoje (sexta-feira). De um lado, a Globo está dizendo que está tudo bem. Mas não adianta a mentira. Ele entrevistou o relações públicas da Polícia Militar, coronel Frederico Caldas, que dizia que não houve adesão e minimizava o movimento. Ao mesmo tempo, mostrava imagens da mobilização na Cinelândia, da carreata pelas ruas da cidade e dos quarteis lotados".
"A sociedade precisa confrontar a polícia no campo ideológico"
A parlamentar acredita que essa é a oportunidade ideal para que a sociedade discuta os rumos que as polícias devem tomar daqui para frente:
"Se a sociedade, principalmente nossa classe média hipócrita, quer viver com segurança, precisa assumir sua responsabilidade e confrontar a polícia ideologicamente. Precisamos de instituições modernas e democráticas. O estado está introjetado nas pessoas, essa concepção de estado punidor, que controla socialmente, o estado do vigiar e punir, está lá. Isso não se reflete só pela ordem dos oficiais, isso está dentro dos próprios praças. Isso só se muda discutindo, temos que enfrentar a polícia ideologicamente, se quer uma polícia democrática e cidadã. Largar de vez o ranço da ditadura. É como se existisse uma formação que diz assim: desconfie do pobre. Se ele está vestido com aquele boné, camiseta surrada, ele já é bandido. É só achar uma prova material. É essa a polícia cheia de preconceito que queremos?", questiona.
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