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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Greve de policiais: no Bope, o castigo vem a cavalo

Policiais que se recusaram a cumprir ordens no início da greve são afastados da unidade de elite da PM do Rio. Onze foram transferidos esta semana


Na noite de quinta-feira, 9 de fevereiro, enquanto cerca de cinco mil grevistas, entre policiais militares, civis e bombeiros se reuniam na Cinelândia para decretar a paralisação conjunta, um outro manifesto acontecia a alguns quilômetros dali, mais precisamente na sede do Batalhão de Operações Especiais (Bope), a tropa de elite da polícia carioca, em Laranjeiras. A ordem do chefe do Estado Maior, Alberto Pinheiro Neto, era para que o comandante da unidade, Wilman René Alonso, enviasse a equipe de plantão para o local da manifestação. A ordem, encarada pela equipe Bravo como uma afronta, foi desobedecida. O castigo veio a cavalo. Por ordem de Pinheiro Neto, desde a última terça-feira, o grupo considerado rebelde começou a ser expurgado do batalhão. Um a um, eles estão sendo punidos com transferências para batalhões comuns, a maioria deles na Baixada Fluminense, São Gonçalo e Itaboraí. Até esta quinta-feira 11 já tinham sido realocados compulsoriamente.

O Boletim Interno número 31, de 14 de fevereiro, traz na página 55 a lista dos transferidos – entre outras transferências rotineiras da PM. A diferença é que, por ser uma unidade de elite, com treinamento especial, raramente há mudanças em massa no batalhão.

A lista de punidos é encabeçada pelo subtenente Jayme Rosa Filho, oficial de operações, e pelo sargento mais antigo, Milton Ramos Azevedo, conhecido no Bope como Bambam. Este, por sinal, tornou-se uma espécie de lenda entre os ‘caveiras’. Participou de praticamente todas as grandes ações protagonizadas pelos homens de preto, inclusive das cinematográficas ocupações da Vila Cruzeiro, em 2010, quando as câmeras flagraram centenas de bandidos correndo do Bope, e da Rocinha, ano passado.



Nove dos policiais transferidos do Bope: todos integrantes do grupo que descumpriu ordens no primeiro dia de greve“Queríamos apenas saber qual o motivo dessa ordem, pois sabíamos que estaríamos afrontando uma multidão, somente pelo fato de estarmos ali por perto. Era óbvio que isso iria acirrar os ânimos e poderia gerar uma confusão sem precedentes. Então surgiu o questionamento ao comandante”, explica um dos policiais.



O fato é que a equipe Bravo acabou se recusando a sair do batalhão sem saber exatamente do que se tratava a missão. A decisão de não combater os grevistas já havia sido avisada ao comandante numa reunião na semana anterior, três dias antes do início da greve. E o próprio subcomandante do Bope, major André Batista (oficial que inspirou o personagem Mathias, interpretado pelo André Ramiro, no filme ‘Tropa de Elite’) prometera diante da tropa, formada no pátio da unidade, que entregaria o cargo se o comandante-geral, coronel Erir Ribeiro Costa Filho, mandasse o Bope para qualquer ocorrência que não fossem aquelas para os quais assalto com reféns, fechamento de vias, arrastões ou ataque de facções do tráfico


Outros dois policiais do Bope transferidos: punições revoltaram a tropa

“Não era uma adesão à greve nem um ato de insubordinação. Mas não iríamos para uma praça no centro da cidade enfrentar nossos colegas que reivindicavam melhores condições de salário. A equipe Bravo demorou a formar (reunir-se para partir em missão), mas depois acabou indo para o Quartel General da PM, ficou cinco minutos lá dentro e voltou”, explica outro oficial do Bope.

Com as transferências, o clima na unidade mais bem preparada do Rio de Janeiro azedou. Até o segurança pessoal do comandante Wilman René, cabo Marcelo Luiz Lino Moreira, foi mandado para outra unidade. Mesmo sem estar de serviço, naquela noite ele vestiu a farda preta e se juntou aos colegas que buscavam uma explicação do comando. A crise pode se agravar. Os praças do batalhão se reuniram e têm tentado convencer um grupo maior a entregar o cargo e pedir a exoneração do Bope caso as punições sejam levadas adiante.



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